Filho de Hermógenes Ernesto de Araújo e de Jerônima Pereira de Almeida, Eurípedes Barsanulfo nasceu no dia 1º de maio de 1880. Um dos grandes trabalhadores do Espiritismo, o Apóstolo do Triângulo, como é conhecido, nasceu em Sacramento, Minas Gerais, situada a 80 km de Uberaba. Desencarnou na mesma cidade onde nasceu, em 1º de novembro de 1918, aos 38 anos de idade.

Espírito elevado, inteligência brilhante, conhecido e amado no meio espírita pela sua vida missionária, teve uma infância pobre, numa família numerosa. Eurípedes desde cedo distinguiu-se por sua dedicação ao estudo, por sua conduta equilibrada e seu acentuado amor às criaturas, em especial àquelas mais carentes.

Sua atenção ao Espiritismo foi despertada quando, aos 24 anos de idade, teve a oportunidade de ler o livro de Léon Denis, "Depois da Morte", pois nele encontrou as respostas aos seus questionamentos. Durante 12 anos e sete meses foi presidente do Grupo Espírita "Esperança e Caridade", por ele fundado.

Professor e educador, Eurípedes criou, em 1º de abril de 1907, o Colégio Allan Kardec - que até hoje existe em Sacramento -, nele lecionando as mais diversas disciplinas, pois dominava perfeitamente os mais diversos ramos do conhecimento humano. Este estabelecimento funcionou sob a competente direção de Eurípedes durante todo o tempo que viveu aqui na Terra. Milhares de pobres e órfãos ali receberam, gratuitamente, a instrução intelectual e moral.

O professor de Sacramento fazia-se amigo dos alunos e, assim, era respeitado. Jamais impunha castigos. Não se limitava, unicamente, ao ato de instruir porque a finalidade máxima da educação consistia, para ele, em formar no homem um caráter virtuoso e despertar-lhe o sentimento religioso. Em outras palavras, a educação não visava, apenas, o acúmulo de conhecimentos; era-lhe básico levar o educando aos caminhos do Bem.

A prova disso é que Eurípedes fundou a "Associação dos Amiguinhos dos Pobres" entre os alunos de seu colégio, os quais, aos sábados, faziam leilão do que haviam conseguido com parentes e amigos: roupas, livros usados, frutas, objetos etc. Com o dinheiro apurado, semanalmente, Eurípedes e os pequenos responsáveis pela associação beneficente adquiriam gêneros alimentícios para distribuir aos pobres.

O apóstolo de Sacramento gostava de dar aula manuseando o Livro da Natureza. Os conhecimentos de astronomia, por exemplo, eram assimilados pelos alunos durante a contemplação do céu. Era comum, também, Eurípedes levar seus alunos ao campo e transmitir-lhes conhecimentos de botânica ou zoologia. Pegava, então, uma planta ou um inseto e classificava-os, aproveitando o momento para falar de Deus.

Sob a orientação do benfeitor espiritual Bezerra de Menezes, fundou, também, a Farmácia Espírita Esperança e Caridade, que contava com apoio de laboratório que funcionava ao seu lado.

Eurípedes adquiria os medicamentos homeopáticos e o instrumental necessários nas melhores firmas especializadas do ramo, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Milhares de cartas, oriundas de todo o Brasil, trazendo comovedoras solicitações de enfermos do corpo e do espírito chegavam-lhe às mãos. E em cada uma Eurípedes apunha receitas ou orientações de Bezerra, conforme a circunstância.

Diariamente eram enviados, para numerosas cidades do território nacional, pelos Correios, sob registro, centenas de remédios manipulados na farmácia.

A Farmácia de Eurípedes era totalmente gratuita. A manutenção, altamente dispendiosa pelo volume do atendimento, fazia-se com o salário do moço e com a ajuda espontânea de confrades abastados.

Em nenhuma de suas atividades Eurípedes visava retorno pecuniário. Alma elevada, compreendia que a linguagem universal chama-se fraternidade.

A mediunidade de Eurípedes surgiu de forma notável, espontânea e multiforme, como só acontece com espíritos especialmente preparados para isto e que tenham uma missão especial, como a dele. Desdobramento, vidência, psicofonia, psicografia, curas, efeitos físicos, receituário foram surgindo e se tornando habituais em sua vivência.

Um dos primeiros casos de cura ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora em seus trabalhos.

A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento centenas de pessoas de outras paragens, abrigando-se nos hotéis, pensões e até mesmo em casas de famílias, pois a todos Barsanulpho atendia; e ninguém saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e, quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.

A capacidade de desdobramento era tão comum em sua vida, que atendia enfermos que se encontravam em outros locais, entrando em transe e indo, em espírito, aonde estes se encontravam.

Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais. Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços, porém animado do mais vivo idealismo.

Por ocasião da grande epidemia de gripe espanhola, que vitimou milhares de pessoas no país, Eurípedes dedicou-se a atender aos enfermos, passando noites em claro ao lado de seus leitos, sem tempo para dormir ou cuidar de si. Sem resguardar-se de forma mais eficiente, acabou por contrair a doença, vindo a desencarnar em poucos dias, por estar com a saúde já debilitada em virtude da constante doação em favor das criaturas.

Eurípedes Barsanulpho deixou história, uma história rica, humana e profunda. Permanece sendo, no Plano Espiritual, um dos maiores e mais dedicados missionários do Espiritismo. E dando prosseguimento ao seu ministério de amor ao Mestre através do próximo, continua a socorrer a todos aqueles ainda enfermos do corpo e da alma.

 

BIBLIOGRAFIA:

Novelino, Corina - “Eurípedes, O Homem e a Missão” - IDE Editora
Rizzini, Jorge - "Eurípedes Barsanulfo o Apóstolo da Caridade" - Edições Correio Fraterno
Schubert, Suely Caldas - "Mediunidade, Caminho Para Ser Feliz" - Didier Editora
Wantuil, Zêus - "Grandes Espíritas do Brasil" - Edição FEB

 

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1º de Maio de 1880
1º de Novembro de 1918

 

Começara Eurípedes Barsanulfo a observar-se fora do corpo físico, em admirável desdobramento, quando, certa vez, à noite, viu a si próprio em maravilhosa volitação.

Embora inquieto, como que arrastado pela vontade de alguém num ato de amor, subia, subia... Queria parar, e descer, reavendo o seu corpo, mas não conseguia. Possuía forma leve, respirando num oceano de ar mais leve ainda.

Viajou, viajou, à maneira de pássaro guiado, até que se reconheceu em um campo verdejante. Reparava na formosa paisagem, quando, não longe, avistou um homem que meditava, envolvido por doce luz. Como que magnetizado pelo desconhecido, aproximou-se.

Houve, porém, um momento que parou, trêmulo. Algo lhe dizia no íntimo para que não avançasse mais. E, num deslumbramento e contentamento, reconheceu-se na presença do Cristo. Baixou a cabeça, esmagado pela honra imprevista, e ficou em silêncio, sentindo-se como intruso, incapaz de voltar ou seguir adiante.

Recordou as lições do cristianismo, os Templos do Mundo, as homenagens prestadas ao Senhor, na literatura e nas artes, e a mensagem d'Ele a ecoar entre os homens, no período de quase 20 séculos. Ofuscado pela grandeza do momento, começou a chorar... Grossas lágrimas banhavam-lhe o rosto, quando adquiriu coragem e ergueu os olhos, humilde.

Viu, porém, que Jesus também chorava...

Tomado por repentino sofrimento, por ver o Mestre chorar, desejou fazer algo que pudesse reconfortar o Amigo Sublime. Afagar-lhe as mãos ou estirar-se à maneira de um cão leal aos seus pés... Recordou, no entanto, os tormentos do Cristo, a se perpetuarem nas criaturas que até hoje, na Terra, lhe atiram incompreensão e ironia. Nessa linha de pensamento, não se conteve.

Abriu a boca e falou, suplicante:
- Senhor, por que choras?

Porém, Jesus não respondeu. Mas desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes falou, novamente:
- Choras pelos descrentes do mundo?

Enlevado, o missionário de Sacramento notou que Cristo lhe correspondia agora ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu com uma voz doce:
- Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devo amar. Choro por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam...

Eurípedes não saberia descrever o que se passou então. Como se caísse em profunda sombra, ante a dor que a resposta lhe trouxera, desceu, desceu... e acordou no corpo de carne. Era madrugada, levantou-se e não mais dormiu.

E, desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava a consciência, entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso sequer de um dia, servindo até a morte.

"Eurípedes Barsanulfo, o Apóstolo da Caridade"
Jorge Rizzini