FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

  • 02 de abril de 1910
  • 30 de junho de 2002

Francisco Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo, pequena cidade de Minas Gerais a 50 quilômetros de Belo Horizonte, em 2 de abril de 1910. Filho de João Cândido Xavier e Maria João de Deus, ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade. Teve uma infância difícil, precisando ajudar na criação de oito irmãos e trabalhar desde cedo para auxiliar nas despesas domésticas desempenhando, entre outras atividades, a de servente de cozinha, tecelão em uma fábrica e caixeiro de armazém.

Desde os quatro anos de idade o menino Chico começa a perceber a manifestação dos espíritos: conversava com sua mãe desencarnada, ouvia vozes confortadoras, era auxiliado na escola pelos amigos espirituais.
Sua família, de formação católica, no início não encarou com naturalidade as singulares faculdades do menino. Seu pai chegou mesmo a crer que seu filho havia sido trocado por outro e as pessoas da cidade afirmavam que ele tinha parte com o diabo, além de ser tachado de mentiroso por afirmar ver os espíritos e de louco por ser visto falando sozinho.

Depois do desencarne de sua mãe, seu pai se viu obrigado a espalhar os filhos nas casas de parentes e amigos, e Chico foi morar com a madrinha - Dona Rita de Cássia, mais conhecida por Dona Ritinha. A partir de então começaria seu sofrimento físico e moral. A madrinha possuía um gênio forte e agia rudemente com qualquer pessoa que lhe desagradasse. Tinha crises nervosas diárias e quase sempre descontava no menino.

Quando se via só, Chico corria para o fundo do quintal onde, debaixo de uma bananeira, começava a orar e então lhe aparecia sua mãe, exortando-o a tratar sua madrinha bem e a cumprir os deveres cristãos, porquanto em breve surgiria um anjo bom em sua vida. Dois anos mais tarde a profecia de sua mãe se realizaria, quando seu pai contrai novas núpcias, com Dona Cidália Batista, que pediu ao marido que trouxesse para o novo lar os filhos do seu primeiro casamento, assumindo o compromisso de educá-los e deles cuidar com o máximo carinho possível, como se fossem seus próprios filhos.
Apesar dos sofrimentos morais e das dificuldades financeiras, o garoto ia crescendo, conservando uma personalidade meiga e pura, sendo incapaz de uma palavra obscena, de um gesto de desobediência.

Em maio de 1927, quando contava dezessete anos de idade, ocorreu um fato que abalou toda a sua família. Uma de suas irmãs, Maria Xavier Pena, começou a apresentar sintomas de perturbação mental. Seu pai, desesperado, procurou o amigo José Hermínio Perácio, residente com a esposa Dona Carmem Pena Perácio e família na fazenda Maquiné, situada no município de Curvelo, distante cerca de cem quilômetros de Pedro Leopoldo. Eram conhecidos espíritas, e o Sr. João Cândido lhes pediu ajuda em face do grave estado de saúde em que se encontrava sua filha, sendo prontamente atendido.

Examinando o caso, o Sr. José Hermínio levou-a para a fazenda, iniciando ali, com a ajuda dos protetores espirituais, o tratamento do processo obsessivo que a vitimara. Obtendo sensíveis melhoras, aos poucos a jovem foi se sentindo liberta de tão terrível enfermidade espiritual.
Na segunda quinzena de junho, para alegria de seus familiares, o casal levou-a de volta a Pedro Leopoldo completamente curada. Nesta ocasião manifestaram o desejo de fundar um centro espírita na cidade, com o objetivo de divulgar o Evangelho. Convidaram Chico a participar das reuniões, tão logo o formassem.

No dia 21 de junho de 1927, em uma sala emprestada, na residência de Dona Josepha Barbosa Chaves, na rua São Sebastião, deu-se a inauguração do ainda hoje existente Centro Espírita Luiz Gonzaga, posteriormente com sede própria.
Alegre com a cura da irmã, Chico começou a freqüentá-lo, orientado por aquele casal que o presenteou com dois livros: "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Espíritos".

A 8 de julho de 1927, em sessão pública que se realizava no recém fundado Centro Espírita Luiz Gonzaga, Dona Carmem Pena Perácio ouviu quando um amigo espiritual lhe disse que orientasse aquele jovem, dando-lhe lápis e papel, a fim de experimentar a psicografia. Transmitido o pedido, Chico logo se colocou em meditação, começando o lápis a correr por sobre o papel em grande velocidade, numa psicografia intuitiva e semi-mecânica.
Naquela noite memorável, os espíritos deram início ao belo trabalho de desdobramento da história do Espiritismo, marcando a fase dos grandes ditados mediúnicos que consolidariam o aspecto evangélico da Doutrina Espírita. Dezessete folhas de papel foram preenchidas celeremente, discorrendo acerca de deveres do espírita-cristão.
Sobre esta ocasião, Chico Xavier falaria:

"Era uma noite quase gelada e os companheiros que se acomodavam junto à mesa me seguiram os movimentos do braço, curiosos e comovidos. A sala não era grande, mas no começo da primeira transmissão de um comunicado do mais Além, por meu intermédio, senti-me fora de meu próprio corpo físico, embora junto dele. No entanto, ao passo que o mensageiro escrevia as dezessete páginas que nos dedicou, minha visão habitual experimentou significativa alteração. As paredes que nos limitavam o espaço desapareceram. O telhado como que se desfez e, fixando o olhar no alto, podia ver estrelas que tremeluziam no escuro da noite. Entretanto, relanceando o olhar no ambiente, notei que toda uma assembléia de entidades amigas me fitavam com simpatia e bondade, em cuja expressão adivinhava, por telepatia espontânea, que me encorajavam em silêncio para o trabalho a ser realizado, sobretudo animando-me para que nada receasse quanto ao caminho a percorrer."

Em 1931, vê pela primeira vez o Espírito Emmanuel, que seria seu mentor espiritual pelo resto da vida. Num diálogo com o médium, o mesmo lhe dá duas orientações básicas para o êxito da missão que teria de desempenhar.

Emmanuel pergunta:
- Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com Jesus?
- Sim, se os bons espíritos não me abandonarem... - res pondeu o médium.
- Não será você desamparado - disse-lhe Emmanuel, mas para isso é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem.
- E o senhor acha que eu estou em condições de aceitar o compromisso? - tornou o Chico.
- Perfeitamente, desde que você procure respeitar os três pontos básicos para o serviço...
Porque o protetor se calasse, o rapaz perguntou:
- Qual é o primeiro?
A resposta veio firme:
- Disciplina.
- E o segundo?
- Disciplina.
- E o terceiro?
- Disciplina.

A segunda mais importante orientação de Emmanuel seria assim relembrada por Chico Xavier:

"Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me previniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec, e disse mais que, se um dia ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que eu deveria permanecer com Jesus e Kadec, procurando esquecê-lo."

Em uma noite de agosto de 1931, com 21 anos de idade, regressando do trabalho de caixeiro na casa do Sr. Felizardo Sobrinho, ao fazer as suas preces habituais, Chico terminou a psicografia de um amontoado de poesias, recebida de dezenas de poetas, dos mais conhecidos e variados estilos e, em julho de 1932, vem a lume pela Federação Espírita Brasileira seu primeiro livro - "Parnaso de Além-Túmulo".
O livro provoca grande polêmica nos meios literários, por parte dos mais renomados escritores e poetas do Brasil como: Humberto de Campos (ainda vivo na época), Agrippino Grieco, que era conhecido por ser um severo crítico literário de renome nacional, o poeta gaúcho Zeferino Brasil, célebre jornalista do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, que assim se pronunciaria em sua crônica dominical: "Desconheço os fenômenos, mas reconheço os estilos; isto espanta-me, mas encanta-me". E com o passar do tempo vários "Imortais" deram seus pareceres favoráveis sobre a autenticidade das poesias e o estilo de quem as escreveu.
Prefaciando "Parnaso de Além-Túmulo", escreveu Manuel Quintão: "Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência dos seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'.

Em 1933, contando 23 anos de idade, simultaneamente com o emprego de caixeiro, passou a trabalhar na Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal do Ministério da Agricultura onde, graças aos seus esforços, tornou-se mais tarde um respeitável escriturário, aposentando-se quase trinta anos depois.
Após a repercussão de "Parnaso de Além-Túmulo", o então já famoso médium Chico Xavier prosseguiu em suas atividades mediúnicas no Centro Espírita Luiz Gonzaga, também se dedicando a amplos trabalhos assistenciais em prol dos sofredores e necessitados.

Em 1937 a Federação Espírita Brasileira lançaria mais um livro psicografado por Chico: "Crônicas de Além-Túmulo" que, para surpresa de todos, havia sido ditado pelo espírito do famoso cronista e poeta Humberto de Campos.
Novamente ocorreu um impacto, porém maior que o "Parnaso de Além-Túmulo"; a repercussão no meio literário foi enorme, provocando, mais tarde, um processo movido pela viúva do escritor e seus filhos, acusando o médium de assinar indevidamente o nome de seu marido, exigindo indenização e sustação de novas edições da Federação Espírita Brasileira, em citação feita ao seu presidente no dia 31 de julho de 1944. Na época, o assunto causou enorme controvérsia, ocupando por um bom espaço de tempo as manchetes dos principais jornais do País, ficando a imprensa dividida.
Na ação declaratória, proposta perante o MM. Juiz da 8ª Vara Cível do Rio de Janeiro, a viúva, Dona Catharina Vergolino de Campos, alegou que "em condomínio com seus filhos Lourdes, Hen- rique e Humberto era titular dos direitos autorais oriundos da vasta e brilhante obra literária produzida por seu falecido marido".

Em 23 de agosto de 1944, por sentença do Dr. João Frederico Mourão Russel, Juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal, a Autora D. Catharina Vergolino de Campos foi julgada carecedora da ação proposta, tendo ela recorrido dessa sentença ao Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal, que a manteve por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o Ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. Finalmente, no dia 3 de novembro de 1944 a justiça absolveu o médium. A partir de então o espírito Humberto de Campos passaria a assinar sob o pseudônimo de "Irmão X" em suas futuras obras mediúnicas.

Superado o episódio 'Humberto de Campos', Chico Xavier inauguraria a fase de uma grande série de romances psicografados como: "Há 2 000 Anos...", "50 Anos Depois", "Ave Cristo!", "Paulo e Estêvão", todos de autoria de seu mentor Emmanuel.

A série André Luiz representaria um marco, cujos livros trariam uma descrição detalhada no tocante à vida depois da morte, confirmando obras anteriores como as de Swedenborg, A. Jackson Davis, Cahagnet, do reverendo G. Vale Owen, entre outras. "Nosso Lar" se transformaria num 'best seller' da literatura espírita, chegando a vender mais de um milhão de exemplares.
O Dr. Hernani Guimarães Andrade, um dos mais brilhantes estudiosos do Espiritismo, principalmente no seu aspecto científico, sendo respeitado internacionalmente pelo seu trabalho de pesquisa de fenômenos paranormais e casos sugestivos de reencarnação, respaldados por abundante documentação coletada e constante dos arquivos do IBPP - Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas - escreveria sobre a obra de André Luiz:
"Como simpatizante da linha científica do Espiritismo, considero a maior contribuição deste século, obtida por via mediúnica, para a solução do problema da natureza do homem, hoje tão focalizada pela Parapsicologia. Fica aqui consignada, a título de registro e endossada por mim, a seguinte previsão: - As Obras de André, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, serão, futuramente, objeto de estudo sério e efetivo nas maiores universidades do mundo, e consideradas como a mais perfeita informação acerca da natureza do homem e da sua vida após a morte".

Por muitas décadas Francisco Cândido Xavier foi considerado o maior médium do mundo, não só pela sua extraordinária capacidade mediúnica, mas também por aliar suas faculdades medianímicas à moral cristã, numa combinação admirável.
Embora seja a psicografia seu dom mediúnico mais conhecido, também possuía as mediunidades psicofônica, clarividente, clariaudiente, receitista, entre outras.

Nos seus mais de 400 livros psicografados, abarcando os mais diversos assuntos, entre poesias, romances, contos, crônicas, ciência, filosofia, religiâo e literatura infantil, da autoria de mais de 572 espíritos, alcançando uma vendagem de mais de vinte milhões de exemplares, o médium nunca auferiu vantagem de qualquer espécie, doando os direitos autorais de suas produções mediúnicas a várias instituições e editoras espíritas, num exemplo admirável de retidão da prática mediúnica e desprendimento dos bens terrenos.
Várias de suas obras foram traduzidas e publicadas em inglês, francês, italiano, espanhol, esperanto, japonês, grego etc, sendo algumas delas adaptadas para peças de teatro, radio-novelas e novelas televisivas. Tendo concluído apenas o curso primário, foi um homem simples e humilde, caracterizado por ilibada moral, irradiando para todos que o procuraram a mais singela simpatia.

No decorrer de sua existência, ofertou dias e noites em prol de seus semelhantes, em detrimento da própria saúde. Problemas orgânicos acompanharam-no durante toda a vida, jamais desanimando-o ou levando-o a descumprir seu mandato mediúnico.
Sempre silenciou diante dos apodos e críticas que recebeu dos detratores do Espiritismo através da imprensa, respondendo unicamente com seu incansável trabalho em favor dos necessitados.
Ricos e pobres, velhos e crianças, homens e mulheres de todas as classes sociais vêem em Francisco Cândido Xavier um exemplo de vida e amor aos seres humanos.
Com mais de 72 anos de serviços prestados à Humanidade, registramos um pouco da história deste grande trabalhador da seara de Jesus e fiel discípulo de Allan Kardec, e a mais perfeita antena psíquica do século.

            Paulo Henrique D. Vieira - "Reformador"- Novembro/1999 - FEB

(...) Perguntei ao Chico como foi que escolheram o nome de Luiz Gonzaga para o Centro de Pedro Leopoldo. Explicando, inicialmente, que Luiz Gonzaga era italiano, enfermeiro, tendo morrido aos 23 anos de idade no socorro aos bexigosos como um autêntico mártir da solidariedade humana, acrescenta; "Àquela época, eu tinha 16 anos e era o secretário do grupo. Quando nos reunimos para fundar o Centro, era o dia 21 de junho, data consagrada pelo calendário a São Luiz Gonzaga. Também, Lindemberg havia concluído a Travessia do Atlântico na aeronave que levava o nome "Espírito São Luiz", só que esse havia sido Rei da França - o que foi ferido nas cruzadas e, ao que tudo indica, protetor de Allan Kardec. Então, para homenagear um e outro, demos ao nosso Centro o nome de Luiz Gonzaga.
A surpresa maior vem agora: "Sabe, Baccelli, um dia eu estava no portão de casa, quando surgiu um mendigo perguntando se eu era o Chico Xavier. Depois de conversar um pouco, ele tirou de um saco uma imagem de São Luiz Gonzaga dizendo que havia ido ali só para ma entregar...!" (Esse fato se deu em Uberaba.) (...)
"Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro" - Carlos A. Baccelli

Aos 92 anos, o médium Chico Xavier desencarnou na noite do dia 30 de junho de 2002, domingo, em Uberaba, Minas Gerais. Ele estava com vários problemas de saúde e teve uma parada cardíaca. Ele completaria 75 anos de atividade mediúnica no dia 8 de julho.